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Voltar Publicado em: sexta-feira, 2 de outubro de 2020, 4h47

ABCS pauta Peste Suína Africana e Peste Suína Clássica

Ao lado de um trio de especialistas a associação traz um panorama mundial sobre as duas doenças 

A Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA) são duas das principais doenças que acometem a suinocultura. A PSA vem ganhando cada vez mais destaque no noticiário em decorrência da epidemia que tem acometido o continente asiático e o impacto causado por ela no mercado mundial de carnes. Agora mais do que nunca o assunto está em pauta após a Alemanha relatar o surgimento de casos de PSA no país. Aproveitando o gancho, o evento realizado pela ABCS em conjunto com a 333 Brasil buscou justamente trazer informações de qualidade sobre o cenário dessas doenças no Brasil, na Europa e na Ásia, convidando três especialistas para falar sobre as ocorrências recentes, experiências de enfrentamento e prevenção para mais de 400 inscritos de 12 países diferentes. 

Segundo o médico veterinário e gerente da Trouw Nutrition, Dr Maurício Dutra, a PSA é endêmica do continente africano, e foi relatada pela primeira vez em 1921 no Kênia. A primeira onda de contaminação aconteceu em 1957 em Portugal, depois entre 1960 e 1979 chegou a outros países da Europa e também da américa central e do sul, inclusive no Brasil no final da década de 1970. Em 2007 a doença acometeu a Rússia, outros países europeus e chegou a Ásia. Se trata de uma doença infecciosa, resistente e extremamente contagiosa que contamina suínos domésticos e selvagens. Os sinais clínicos da doença são lesões avermelhadas, hemorragias, perda de peso, úlceras, artrite, problemas respiratórios e necrose pulmonar. Ela é transmitida entre os suínos ou javalis, e também pode ser vinculada por picadas de tipos específicos de carrapatos, moscas de estábulo com o vírus presente, assim como pela ação do homem em contato com os suídeos que pode ser carregado por meio dos restos de alimentos, roupas e objetos contaminados. Maurício explica que de acordo com um estudo realizado na Rússia, 38% dos focos de PSA no país foram propagados por veículos contaminados. E 35% proveniente de alimentos contaminados ingeridos pelos suínos.

Ásia

A Peste Suína Africana não é uma zoonose, portanto não passa dos animais para as pessoas, somente infecta os suínos domésticos e asselvajados (javalis). É um problema para a saúde dos suínos, e traz muitos prejuízos para os animais e para o mercado, devido aos grandes índices de mortalidade e rápida disseminação. Desde de 2018 até junho deste ano, a China tem notificado oficialmente poucos casos, porém, o país conta com o maior rebanho suíno do mundo. Estima-se que a redução do plantel no país tenha sido de 30 a 50% em granjas de subsistência e tecnificadas, o que representa uma redução em torno de 10 Milhões de matrizes, de um total de 38 Milhões. Já no Vietnã o dano é ainda maior se pensarmos na redução total do rebanho no país, com uma perda de 50% do rebanho, devido a uma predisposição a negligenciar a biossegurança, já que 70% da produção do país não é tecnificada. O Doutor Maurício explica que ainda não existe vacina ou tratamento eficaz contra a PSA, “mundialmente existem várias vacinas sendo testadas, algumas se mostram promissoras, mas todas estão em fase experimentais e de testes. Não há tratamento disponível. A notificação é obrigatória e a biosseguridade é a melhor ferramenta de prevenção e controle, pois a letalidade do vírus é muito alta. 90% dos animais que se contaminam podem morrer.” Segundo ele, o que tem sido feito na China é um investimento pesado em biosseguridade através do controle rígido de pessoas, caminhões de transporte e suprimentos para frear a contaminação nas granjas. “Uma outra forma que tem sido adotada para conter a disseminação, é testar rapidamente na granja, os animais que apresentam algum sinal clínico da doença, junto aos suínos mais próximos, e removendo-os do sistema de criação em casos positivos.”

Europa

Já no continente europeu, o médico veterinário, professor e pesquisador do   Instituto de Investigação em Recursos Cinegéticos (IREC) e da Universidade de Castilla- Espanha, Christian Gortázar relaciona o ressurgimento da PSA, ao crescimento da população de javalis, que são hospedeiros da doença. “O javali desempenha um papel fundamental na disseminação da PSA, mas, apesar de sua importância, pouco se sabe sobre os principais mecanismos que impulsionam a transmissão da infecção e a persistência da doença.” O contato com esses animais, com seu sangue ou carcaça já pode ser o suficiente para a transmissão e disseminação para populações vizinhas. Quando se trata do aumento populacional de javalis, o professor explica que disponibilidade de alimentação causa maior densidade de hospedeiros e temporadas de reprodução mais longas, podendo levar ao aparecimento de um surto epidêmico mais pronunciado e persistência da doença em longo prazo. Ele compartilha também que a principal medida adotada pela Espanha para evitar uma possível proliferação da doença é uma combinação de sacrificar os suídeos asselvajados e a remoção de carcaças infectadas. Eles têm trabalhado também com a caça recreativa com adoção de boas práticas durante o manejo, reforço de barreiras e gestão de habitat. Para ele a implementação antecipada de medidas de controle são cruciais para deter a infecção.  

Brasil

O Brasil felizmente é um país que não apresenta casos de PSA, e conseguiu erradicar em 1984, tornando-se um país livre. No entanto, se mantém vigilante através do Plano de ação e prevenção da Peste Suína Africana, implementado pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), para que a doença não adentre as fronteiras. O médico veterinário e auditor fiscal agropecuário do Departamento de Saúde Animal do MAPA Guilherme Takeda, explica que as medidas adotadas incluem ações de pré-fronteira e fronteira. Redução de riscos de exposição dos suínos ao vírus, detecção precoce de casos suspeitos, com descarte ou confirmação rápidas e precisas. E a criação de condições e alternativas para a continuidade das atividades agropecuárias em caso de ocorrências no país. 

Peste suína clássica

Apesar do status de livre de PSA, o Brasil lida com outra doença, a Peste Suína Clássica que persiste nos estados que compõem a zona não livre, região norte e nordeste. A PSC também é uma doença infecciosa e altamente contagiosa que acomete os suínos domésticos e selvagens. Na maioria dos casos ela se caracteriza por causar infertilidade, abortos, filhotes natimortos, infecções oro-nasais e lesões hemorrágicas. A transmissão se dá pelo contato entre os suínos, alimentos e equipamentos contaminados. A queda de produtividade e mortalidade são prejuízos diretos causados pela doença, além dos custos dos programas de controle e erradicação e restrições de acesso ao mercado de suínos nacional e internacional quando originários de áreas acometidas. O MAPA mantém um sistema de vigilância para a PSC através de duas normas que estabelecem as diretrizes a serem cumpridas para a certificação de granjas, vigilância de suínos asselvajados, ações de proteção da zona livre de PSC, quarentena de todos os suínos importados e realizações de testes diagnósticos, além da desinfecção de focos através do aumento na sensibilização do sistema de vigilância. Existe também o Plano Estratégico Brasil Livre de PSC, que objetiva erradicar a doença através da institucionalização e fortalecimento do serviço veterinário de emergência com estratégias regionalizadas. Guilherme encerra ressaltando o papel chave que os produtores de suínos desempenham no combate a essas doenças: “o produtor tem que conhecer o seu papel e conhecer essas doenças para que possa detectá-las precocemente e fazer a notificação ao serviço veterinário oficial. Com isso, se consegui controlar e identificar rapidamente onde o foco primário da doença surgiu para evitar que se propague.”

Para a Diretora Técnica da ABCS Charli Ludtke, “organizamos este Webinar em conjunto com a 333, devido a PSA e a PSC serem as principais enfermidades da suinocultura mundial, e causar uma série de prejuízos socioeconômicos, e nesse sentido reciclar o conhecimento para intensificar as práticas de biossegurança é a principal forma de prevenção, e assim evitarmos que a PSA adentre o país. Recentemente a Alemanha notificou à OIE casos de PSA, que iniciaram em javalis, é algo para nos mantermos alertas, visando a prevenção e a detecção precoce, e redobrando todos os cuidados, principalmente na importação de insumos (ração), que apesar do risco ser baixo, não podemos ignorar.”