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Voltar Publicado em: quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015, 5h20

Bem-estar favorece produtividade na suinocultura, diz pesquisador

Bem-estar favorece produtividade na suinocultura, diz pesquisador

País carece de pesquisas sobre baias coletivas na realidade brasileira

 

A suinocultura brasileira opera com princípios de manejo humanitário e dialoga abertamente sobre quais seriam os benefícios de elevar o nível de bem-estar animal em quesitos como as baias de gestação coletiva para matrizes.

No entanto, o produtor tem dúvidas quando o assunto é agregação de valor ao produto, acesso a mercados, custos de implantação, linhas de financiamento e, especialmente, sobre a produtividade do sistema de baias coletivas sob as características do país.

Por sua vez, a ciência ainda tem poucos estudos adequados à realidade brasileira, apesar de farta demonstração sobre ganhos de produtividade com o modelo em outros países. Algumas das principais pesquisas sobre o tema no Brasil são realizadas pelo Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da USP.

Segundo o professor da unidade, Adroaldo Zanella, o bem-estar animal influencia positivamente a produtividade do rebanho. “Dor, sofrimento e frustração têm custos metabólicos, que comprometem respostas imunológicas e prejudicam o desempenho. Nossas pesquisas indicam que animais felizes respondem de forma muito mais eficiente ao desmame ou doenças”, relata.

Sobre isso, produtores consultados pela ABCS (ler texto “Granjas brasileiras se adiantam a regras e pressão do mercado sobre bem-estar”) relataram ganhos com o uso de baias coletivas em aspectos como número de animais por funcionário, o peso de nascimento dos leitões, número de nascidos vivos, condições de parto, longevidade das matrizes e docilidade.

O pesquisador identificou que o cuidado com a fêmea no período de gestação influencia toda a existência do animal, desde feto, leitão, animal terminado, reprodutores até gerações futuras. “A saúde e o bem-estar começam no útero. Uma gestação estressada gera animais medrosos, agressivos e susceptíveis a doenças e problemas comportamentais”, sustenta.

O Departamento investiga, atualmente, o ambiente pré-natal e neonatal em suínos quanto a desafios sociais, de doenças, nutricionais e também questões relacionadas com emoções positivas e negativas.

“O nosso objetivo é buscar soluções práticas para problemas como estresse do desmame, alojamento no período da gestação e enriquecimento ambiental. É de extrema importância que pesquisas sejam realizadas no Brasil”, resume.

Autor de tese de doutorado sobre o tema, Zanella defende que a gestação coletiva é vastamente superior às celas individuais no fornecimento de condições básicas de bem-estar para fêmeas suínas.

Por outro lado, a American Veterinarian Medical Association (AVMA, do inglês Associação dos Médicos Veterinários dos Estados Unidos) defende que as gaiolas reduzem a competição por alimentos entre as matrizes e as interações agressivas, além de facilitarem o cuidado com os animais. O professor Adroaldo discorda.

“Fêmeas mantidas em celas individuais de gestação tem comportamento anormal, redução na massa muscular e na deposição óssea, alteração no sistemas do cérebro responsáveis pela sensação positiva. Ainda assim, baias coletivas mal manejadas também são uma receita para desastre”, alerta.

Por isso, especialistas defendem a importância da formação de mão-de-obra especializada, definição dos modelos ideais para cada região ou tipo de propriedade e outros tópicos são fundamentais.

“O setor produtivo está discutindo o tema de forma singular, positiva e amigável. Os produtores têm a oportunidade de liderar estas discussões, com embasamento científico, para consolidar a suinocultura brasileira no mercado global e com garantias de sustentabilidade”, analisa.

O especialista lembra, ainda, que a prática ampla de bem-estar animal na suinocultura, desde o transporte, manejo pré-abate e abate, favorece a qualidade da carne.

“O fenômeno da carne PSE (Pálida, Flácida e Exsudativa, do inglês) é desencadeado pelos hormônios de estresse, que reduzem o pH  da carne e desnatura as proteínas miofibrilares. Esta carne pode ser reconhecida pela cor, textura e pela água que deposita na embalagem”, detalha.

Por fim, Zanella frisa que as vantagens produtivas do bem-estar animal podem ser contestadas apenas se a avaliação dos dados for feita de maneira muito restrita, sem considerar tópicos extremamente relevantes.

“Quando a análise dos dados inclui externalidades como preferência do consumidor, qualidade de vida do tratador, responsabilidade corporativa, ética e principalmente critérios de sustentabilidade, as práticas de bem-estar são sempre melhores e sustentáveis”, finaliza.

Fonte: ABCS
Publicado em 02/03/2014