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Voltar Publicado em: quarta-feira, 14 de janeiro de 2015, 12h56

Granjas brasileiras se adiantam a regras e pressão do mercado sobre bem-estar

Granjas brasileiras se adiantam a regras e pressão do mercado sobre bem-estar

Produtores pioneiros adotam baias coletivas em diferentes regiões do país

 

A suinocultura brasileira, mesmo sem exigências legais e ainda sem grande pressão do mercado, possui bons exemplos de bem-estar animal quanto ao uso de baias de gestação coletiva para matrizes. Pequenos e médios suinocultores, além de grandes integradoras, já utilizam o sistema ou se comprometeram a adotá-lo com prazos limite.

A grande maioria da produção de suínos nacional funciona com as gaiolas de gestação, que são criticadas por organizações de defesa dos direitos dos animais (como a WAP, World Animal Protection) e consumidores mais sensíveis ao tema.

Contudo, a tendência do mercado interno e, principalmente, do externo é criar obstáculos às gaiolas de gestação em médio e longo prazo. O bloco europeu, por exemplo, pode valer-se desta exigência para impor barreiras técnicas à carne suína brasileira em momentos de maior oferta ou maiores custos de produção no continente. Esta situação, possivelmente, pode repetir-se em outros mercados como Japão, China ou Rússia.

Já no mercado interno, grandes redes de restaurantes, supermercados e processadores seguem o mesmo caminho. Um exemplo é o McDonald´s que deixará de comprar carne suína de fornecedores na América Latina, inclusive no Brasil e no México, que não estejam adaptados às baias de gestação coletiva até final de 2016.

Esta é uma das razões para a BRF haver assumido o compromisso, no final de 2014, de adaptar toda sua produção ao modelo de baias de gestação coletiva em 12 anos. A gigante brasileira seguiu o exemplo de outros players globais e, com rebanho de mais de 400 mil matrizes (cerca de 25% de todas as matrizes tecnificadas do país), será um importante driver para a produção nacional.

Pequenos e médios produtores em diferentes partes do Brasil, também, se adiantaram e já tomaram esta iniciativa. A ABCS identificou bons exemplos de adequação às baias de gestação coletiva em Santa Catarina, Minas Gerais e no Distrito Federal.

Em Santa Catarina, a Granja Pevi possui, há cerca de um ano, 750 matrizes com este modelo de produção e já iniciou obras para ampliar a 1,2 mil. Segundo o gestor da unidade, que é integrada à BRF, Sidnei Vilani, já foram observados resultados positivos quanto à tranquilidade dos animais, melhores condições de parto, docilidade e número de nascidos vivos.

“O processo de implantação foi bem tranquilo. Apesar de algumas dificuldades, tivemos um bom suporte. O investimento ainda é muito alto, cerca de R$ 3,1 mil por matriz, para construir uma granja nova adaptada ao modelo. Ainda assim, temos expectativa de 8 anos para o retorno do investimento, pois já estamos sendo valorizados pelo mercado”, explica.

Outro bom exemplo vem de Minas Gerais. As Granjas Santa Cruz e Bom Retiro, que pertencem à DB Agropecuária, possuem um total de 4,1 mil matrizes em sistema de baias de gestação coletiva. A primeira a usar o modelo foi a Granja Santa Cruz, com 2,3 mil matrizes, em 2013, a partir de exemplos adaptados de granjas da Dinamarca, Espanha e Alemanha, que usam também máquinas de alimentação eletrônica.

“Em ambos projetos, tivemos um custo adicional de 5% na construção dos barracões de gestação coletiva quando comparados aos de gestação em gaiolas. Apesar disso, não observamos quaisquer alterações nos índices zootécnicos. Nosso modelo não foi pensando pela valorização do animal, mas, sim, pelo aprendizado e conhecimento das novas exigências quanto ao bem-estar animal”, argumenta o Gerente de Produção, Robert Rene Gurnet.

No Distrito Federal, a Granja Miunça também foi a pioneira a adotar o sistema no Brasil, em 2010, com cerca de 1.250 matrizes. Mais de quatro anos depois, são 2,5 mil matrizes e um projeto em fase de execução para ampliação a 4,5 mil matrizes em baias de gestação coletiva com alimentação por controle eletrônico.

“A implantação foi muito tranquila. Primeiro porque eu já pensava em gestação coletiva há anos e só não adotava porque não havia forma econômica de individualizar a alimentação. Visitei granjas na Europa e encontrei a solução. Adaptei conceitos europeus ao clima do Brasil e o resultado foi muito positivo”, detalha o proprietário da Granja Miunça, Rubens Valentini.

Segundo ele, nenhum índice produtivo na gestação coletiva é inferior aos da gestação em gaiolas e alguns são favoráveis como, por exemplo, o número de animais por funcionário, o peso de nascimento e a longevidade das porcas.

“Em condições normais, calcula-se o retorno do investimento em 10 anos. Posso dizer com segurança que o sistema tem vantagens técnicas e econômicas sobre o convencional. Tanto acredito que estou transformando toda a granja para gestação coletiva, hoje temos cerca de um terço, além de ampliá-la um pouco”, cita.

Sobre a valorização do mercado, os representantes das granjas Miunça, Santa Cruz e Bom Retiro tem dúvidas se os compradores ou mesmo os consumidores estariam dispostos a pagar mais por uma produção com melhores níveis de bem-estar animal. Ainda assim, defendem o sistema seja por vantagens operacionais e econômicas (redução de outros custos) ou por adequação ao que entendem como exigência do mercado no futuro.

“Existem pesquisas que dizem que os consumidores pagariam um “plus” por produto oriundo de granjas com bem-estar animal. No entanto, há uma diferença importante entre uma manifestação de disposição e a efetiva valorização do produto no varejo. De minha parte, não acredito e me contento com as vantagens econômicas e operacionais que a gestação coletiva com controle eletrônico oferece”, conclui Rubens.

O tema do bem-estar animal, segundo os entrevistados, deve ter mais tópicos nos próximos anos e o próximo deve ser as baias de maternidade.  “Sem dúvida, esse setor é a próxima “bola da vez”. Como já observamos em alguns países da Europa, haverá uma exigência quanto ao espaço mínimo para uma fêmea lactante e seus leitões, permitindo uma maior mobilidade do animal durante esse período”, finaliza.

Fonte: ABCS
Publicado em 14/01/2014